61
Ela ficou doente na mesma semana da viagem. Não terrivelmente doente a ponto de cancelar o passeio – não, ela nunca faria isso –, mas desconfortavelmente doente do tipo nariz pingando e herpes acima do lábio superior, quase adentrando as narinas. Estava um bagaço, e era preciso uma solução para extrair-lhe o pouco de suco que ainda restava. O médico receitou um antibiótico. Mata-leão. Só esqueceu de dizer que mataria o resto da flora intestinal que ainda sobrevivera em meio àquele turbilhão de germes gripais. O que aconteceu a seguir talvez seja constrangedor. Mas, aos 61 anos, não há muito mais que ainda possa causar constrangimento. De qualquer forma, tentarei suavizar para preservar o pouco de dignidade que ainda restou aos envolvidos. Digamos que, com aquela quantidade de antibiótico, associada ao impacto físico de uma viagem de quase 10 horas de avião num corpo já combalido, um desarranjo era inevitável. Era verão em Nova Iorque, e as copas das árvores mal se mexiam. Caminha...