Que. Livro. Chato!

"Pessoas normais" - Sally Rooney

Peço desculpas aos fãs de Sally Rooney, mas... Que. Livro. Chato!

Eu não costumo escolher minhas leituras com base em modinhas. Já não faço parte de clubes de leitura há algum tempo, porque acho insuportável essa pressão para todo mundo gostar de um mesmo livro, por pior que ele seja.

“Pessoas Normais” se enquadra bem nessa categoria.

Era tanta propaganda em cima dessa escritora... “Ela é o novo fenômeno literário”, “Ela é a escritora da nova geração”, “Ela deu voz aos millennials”...

Sim, Sally Rooney é uma millennial (geração daquele pessoal que agora chegou na casa dos 30), e, sim, também é verdade que ela tem feito bastante sucesso. “Pessoas Normais” foi um campeão de vendas, e descobri que virou até uma série (que eu não tenho a menor pretensão de assistir; vejam o trailer aqui). Talvez isso tudo tenha incutido em mim uma expectativa além da conta.

Vamos ao enredo.

A história se passa na Irlanda e acompanha a vida de Marianne e Connell, desde a escola, até a vida adulta. Ela é um patinho feio, uma jovem “diferentona” que não se enquadra nos grupinhos. Ele é popularzinho e benquisto pelos colegas. Ela é rica. Ele é pobre.

Apesar disso, Marianne e Connell são amigos, e, no final do ensino médio, passam a ter um envolvimento amoroso. Começa como uma pegação, que evolui para uma coisa mais séria, mas que acaba quando Connell convida uma outra menina para o baile da escola, porque tem vergonha de revelar aos amigos o casinho com a esquisitona Marianne.

Eles vão para a mesma faculdade, e a situação meio que se inverte: Marianne é mais popular, e ele tem maior dificuldade de enquadramento.

Daí em diante é um vai e vem sempre no mesmo tom: Marianne conhece outra pessoa, Connell conhece outra pessoa. Daí terminam. Daí os dois se reencontram e recomeçam o casinho. Daí um fica chateado com o outro por causa de alguma coisa que não foi dita. Daí param com a pegação. Daí conhecem outras pessoas, fazem outros projetos, mas continuam amigos. De vez em quando se pegam de novo, mas é só amizade. O livro inteiro é isso, sem reviravoltas. E sem travessões para marcar os diálogos (o que torna a leitura esteticamente confusa).

Também não é uma história linear. Os capítulos compreendem períodos de tempo da vida do casal, que ora vão, ora voltam.

Resumidamente: é uma história sem sal, maçante, na minha humilde (e sempre insignificante) opinião. Devo ter demorado umas três semanas para terminar um livro curtinho e sem conteúdo desses (são 262 folhas).

“Ai, Milena, não seja tão crítica e fala alguma coisa de bom” – É o que minha mãe diria. Tudo bem, vou falar.

Eu entendo o apelo literário. Sempre acho que falar sobre os anseios de uma geração, e sobre a banalidade da vida em geral, é um bom assunto, afinal de contas, a maioria das pessoas vive o ordinário e procura identificar um pouco de suas vidas na literatura. Juro que entendo e adoro isso. A propósito, “Stoner”, de John Williams, é um dos melhores livros que já li, e a simplicidade da história chega a ser estarrecedora.

Mas “Pessoas Normais” não atinge esse patamar. É uma história muito clichê e sem graça. Em algumas partes, até confusa. A impressão que o livro transmite é de que a geração dos millennials é mimada e indecisa. Só isso. Perde a oportunidade de enfrentar toda a complexidade do pensamento de uma geração (as dúvidas sobre a maternidade, as frustrações profissionais, o idealismo...). O idealismo, aliás, aparece retratado superficialmente por meio daquela velha ideologia de classes. Só.  

“Pessoas Normais” confirma a minha tese de que alguns livros viram sucesso só porque escritos no lugar certo, na hora certa (de preferência, em países de língua inglesa). Aposto que um professor de português conseguiria pensar em, no mínimo, umas 10 histórias mais envolventes, que não ganharam a mesma proeminência – a menos que um inglês tenha vindo nos “resgatar” da nossa própria ignorância. Moacyr Scliar que o diga.  


O dito cujo



Comentários

  1. Me obriguei a vir aqui tentar entender o porque de não ter gostado! Mas confesso que eu sou dessas que adoro os livros da moda. E drama, romance e coisarada de millenials kkkk. Um beijo! Raquel Maldaner

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu crio muito expectativa com esses livros badalados, daí acabo me frustrando. Eu gostei da sinopse, por isso resolvi tentar. Achei que ia me identificar bastante, mas não rolou. Continuo achando que ela perdeu a chance de explorar melhor as inseguranças da nossa geração. Mas vamos lá, divergir faz parte! Seguimos para a próxima. Beijo!

      Excluir
  2. Gostei que lembraste do que tua mãe sempre diz! Beticler Nunes tua mãe!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Maternidade Incompleta

Coisas que só acontecem com a gente

O dia em que virei adulta